Tsuru no ongaeshi – O grou agradecido

Mukashi mukashi… (era uma vez), há muito, muito tempo, numa terra distante, vivia um jovem camponês, pobre, mas trabalhador. Um dia, enquanto lavrava um campo, um grou branco desceu das alturas e caiu no chão, a seus pés.
O jovem reparou que a ave tinha uma seta espetada numa das asas. Compadecido, removeu a flecha e tratou do ferimento. Verificando que, graças aos seus cuidados, o pássaro estava capaz de voar novamente, levantou-o ao ar, dizendo:
– Podes ir, mas tem cuidado com os caçadores.

O grou bateu as asas, deu três voltas sobre a cabeça do jovem, soltou um grito de agradecimento e depois voou para longe.
Como estivesse a fazer-se tarde, o camponês voltou para casa.
Quando chegou, viu com surpresa, à sua espera, na soleira da porta, uma bela mulher a quem ele nunca tinha visto antes.
– Bem-vindo a casa. Sou a tua esposa – disse a mulher.
O jovem ficou perplexo e exclamou:
– És bela e desejável, mas eu sou muito pobre e não te posso sustentar.
A mulher respondeu, apontando para um pequeno saco:
– Não te preocupes, o meu saco tem arroz que chegue para nós dois – e começou a preparar o jantar.
Embora espantado com o que lhe estava a acontecer, o rapaz sentia-se feliz na companhia daquela mulher. E,
misteriosamente, o saco tinha sempre arroz que chegasse para os dois.
Um dia, a esposa pediu ao jovem que lhe construísse uma oficina de tecelagem. Quando esta ficou pronta, ela entrou e disse-lhe:
– Tens de me prometer que nunca entrarás aqui nem espreitarás cá para dentro.
Mal o jovem concordou, a mulher fechou a porta.
Durante sete noites e sete dias, o marido ouviu o tear trabalhar. Ao sétimo dia, a porta abriu-se e a esposa, muito magra, saiu da sala segurando o mais belo pano que alguma vez se vira.
– Amanhã, pega neste tecido e vai vendê-lo ao mercado, que nos renderá bom dinheiro – disse a mulher.
No dia seguinte, o camponês foi à cidade e vendeu o pano por um valor altíssimo. Muito contente, voltou para casa.
Passados dias, a mulher voltou à oficina e recomeçou a tecer.
A curiosidade começou então a roer o homem, que se questionou:
– Como pode ela tecer tão belo pano sem fio nem linha?
Não aguentando mais, desesperado para saber o segredo da esposa, abriu uma fresta da porta e espreitou para dentro da oficina.
Para seu grande espanto, constatou que, em vez da mulher, estava um grou sentado ao tear, a tecer um pano com as suas próprias penas.
Ao ver o jovem a espreitar, o pássaro exclamou:
– Eu sou o grou que tu salvaste. Queria recompensar-te por isso, tornando-me na tua esposa. Mas agora que viste a minha verdadeira forma, não posso ficar aqui por mais tempo.
Entregando-lhe o tecido que acabara de tecer, disse ainda:
– Deixo-te este pano para te lembrares de mim.
Em seguida, levantou voo e desapareceu para sempre.