O kamishibai: uma arte japonesa de contar histórias

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O «kamishibai» é um dispositivo inventado no Japão para contar histórias com imagens. O termo significa literalmente «teatro de papel».
É constituído por uma estrutura em madeira, chamada «butai», dentro da qual correm folhas de cartão com as ilustrações da história, na frente, e o texto correspondente, no verso.
Vulgarmente, aponta-se como origem do «kamishibai» os «emaki», rolos de papel ou seda com narrativas ilustradas, surgidos no séc. VIII. No entanto, de acordo com a investigadora norte-americana Tara M. McGowan, a sua origem é (muito) mais recente.
Terá surgido da remistura de diversos dispositivos: os «emaki» japoneses, mas também a «lanterna mágica» e o teatro de papel ocidentais.

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Os espectáculos de «lanterna mágica», populares entre os japoneses no séc. XIX, eram muito sofisticados e envolviam vários manipuladores. Por outro lado, exigiam ambientes escurecidos e, funcionando com materiais inflamáveis, ocasionaram alguns acidentes trágicos.
Nos primeiros anos do séc. XX, Hagiwara Shinzaburō inventou um novo método de animação, para competir com a «lanterna mágica». Consistia este na exibição de marionetas de papel que, rodando sobre a vareta que as sustinham, mudavam de posição. As suas vantagens eram que podia ser apresentado por apenas uma pessoa, em qualquer espaço, sem risco de incêndio. O processo popularizou-se, mas foi baptizado depreciativamente com a designação «kamishibai». O nome pegou e estes espectáculos passaram a ser apresentados na rua, encenando dramas populares, (alguns escabrosos), em episódios. Eram tão populares que surgiram empresas que alugavam os materiais a contadores itinerantes, mas a crueza das histórias levou a várias proibições.


Em 1929, quando estes espectáculos foram banidos definitivamente, três contadores juntaram esforços e inventaram um novo método, que denominaram shin e-banashi (novas histórias ilustradas), para contornar a proibição. O processo consistia em acompanhar a narração das histórias com cartões ilustrados que corriam dentro de um pequeno palco de madeira. Pouco depois, recuperou o nome kamishibai. É o kamishibai que conhecemos hoje.
A crise mundial dos anos 30 e depois a guerra levaram a um aumento do desemprego no Japão. Para realizar algum dinheiro, muitos pais de família dedicaram-se a percorrer as ruas vendendo doces e contando histórias em kamishibais montados em bicicletas.
Durante os anos da guerra, esta técnica foi mesmo usada como meio de propaganda pelo governo japonês.
Nos anos 50, a popularidade do kamishibai atingira o apogeu.  Até que surgiu a televisão…
Embora quase desaparecendo das ruas, em 1952, o kamishibai foi declarado no Japão como «Tesouro Cultural da Infância» e o seu uso nas escolas e jardins de infância floresceu como nunca.
A partir dos anos 70, o kamishibai globalizou-se. É hoje reconhecido em todos os continentes como um importante recurso pedagógico e de comunicação.
Paralelamente, continua a ser apresentado em ruas e praças, no âmbito de festivais e outros eventos culturais para todos os públicos.

FONTE: The Many Faces of Kamishibai (Japanese Paper Theater): Past, Present, and Future por

VÍDEOS NO YOUTUBE SOBRE O KAMISHIBAI
O que é o kamishibai (em inglês).
O kamishibai na sala de aula (em inglês).
Apresentação de uma história num kamishibai pelo mestre japonês Yassan

OUTROS RECURSOS
Para saber como construir um butai (estrutura base do kamishibai): Le jardin de Kiran (em francês)
Quatro histórias tradicionais japonesas para kamishibai (ilustrações e textos – em inglês), na página da Japan Society of the UK.
Inúmeras histórias para Kamishibai (textos em espanhol, basco e inglês) na página do Proyecto Kamishibai de Navarra (Espanha).